sábado, 26 de dezembro de 2009

Um caxambu na fazenda do Secretário - 1872, Vassouras



Fazenda do Secretário, propriedade da Baronesa de Campo Bello, uma das maiores senhoras de escravo de Vassouras. Era noite de um dia de 1872, o escravo Lino foi levar azeite da outra fazenda da baronesa, do Retiro, para a do Secretário, quando foi convidado pelos outros escravos para tomar posição na festa que faziam depois das tarefas realizadas na lavoura de café.[1] Caxambu era um festejo e também um instrumento musical, um batuque. Este como outros tipos de festas, muitas vezes acompanhados de ex-escravos e também por homens e mulheres livres, era um momento em que trocas culturais se faziam presentes, local de paixões e também de muitos conflitos.[2] Lino decidiu ficar. A aguardente era indispensável e foi servida abundantemente. Cercou-se de um conhecido escravo da fazenda chamado Félix e com ele ficou conversando durante a festa. O batuque adentrava o final de noite e início da madrugada, quando gritos foram escutados. Lino e Félix travaram de repente uma briga; o primeiro arrancou uma faca improvisada, que costumava servir para limpar o vagão do trem, do qual era maquinista, e feriu Félix. Escravos especializados como o maquinista Lino eram tratados com muito prestígio, mais do que os escravos da lavoura de café, por isso fora ele que se deslocou de uma fazenda para outra, levar azeite, numa clara demonstração de flexibilidade na relação com a baronesa de Campo Bello. Gozava de prestígio tanto junto a baronesa quanto aos outros escravos, e quem sabe a querela de Félix tenha sido justamente esta: ciúme em relação à sua posição privilegiada naquela comunidade de escravos. Apesar de nunca terem se tornado uma barreira para as relações entre escravos, a diferenciação no seio de uma comunidade de escravos poderia trazer alguns conflitos, pois é esperado por aqueles que compõe um grupo certas condutas e os que se distanciam desta espectavia podem vir a ser hostilizados.[3] Contudo, não se sabe o motivo da briga, que foi evidentemente fomentada pela coragem que o álcool produz. A baronesa de Campo Bello provavelmente induziu seus escravos a culparem a aguardente pelo ocorrido, afinal de contas se tratava de um dos seus escravos mais valiosos, um maquinista, que se fosse preso lhe daria um prejuízo enorme. O cotidiano do oitocentos era permeado pela violência, o que não faz desta sociedade uma barbárie, um “salve-se quem puder”, mas que tanto escravos quanto não-escravos utilizavam-na rotineiramente em situações de conflito.[4]



[1] Como destacou Charles Joyner, o sistema de tarefas fazia com que os escravos tivessem trabalho durante o dia inteiro, muitas vezes sobrando o fim de tarde para que, em alguns dias, depois das tarefas realizadas, os escravos pudessem festejar. Charles Joyner, Down by the riverside.
[2] Marta Abreu, O império do divino.
[3] Para entender melhor as comunidades de escravos na Carolina do Norte, Charles Joyner propõe o que chamou de degraus de solidariedade no qual os escravos resistiam e acomodavam-se cotidianamente. Charles Joyner, Down by the riverside
[4] Código do sertão, Maria Sylvia de Carvalho Franco, Homens livres no sistema escravocrata.

sábado, 19 de dezembro de 2009

O futuro

E se a escravidão acabar, será que encontraremos trabalho?

A divisão

Não posso errar. ainda existe os que acreditam que temos todos os mesmos direitos. acho que não: existem os que podem errar muito, e os que não podem nem uma vez errar.