terça-feira, 15 de abril de 2014

Pai

Então, era isso, pai, ser quando crescer: tábua de entortar pregos? Então, era isso, pai, o que nunca perguntei e sempre me respondeu?

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Piegas-me

- Não sei, padre, se peco ou se piego: sinto felicidade em errar.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Hematita, diamante-negro

Estava em seu quarto asenzalado, mas não morava na senzala, apesar de agrilhoada. Chovia, chorava. Nem o céu lhe permitiu o direito de ser ela. Carregava às mãos nessa sua chuva, uma hematita, naquelas terras chamada diamante negro. Fora presente de seu irmão, liberto e muleiro. Quando chorar, lembre-se que é um diamante, uma negra diamante, disse Felisberto ao lhe entregar o regalo. O relho, bacalhau de Balbino, que não lhe fazia rogado: lambia suas costas feito pantera, pantera negra Balbino. Escravos de Capitão Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, assim de mesma propriedade, mas mesmo assim irmãos-de-leite. Não soubera sua culpa, não podia então formar desculpas. Balbino balbuciou nem uma palavra, fez o que a ele era devido, a juros, chibatar. Domesticada, escrava da vergonha de ser levada ao tronco, em seu quarto, tentou dar cabo de sua vida. Guardara sua própria cicuta: o leite e a manga. Bebeu o veneno. Chovia, chorava. Adormeceu, acordou quando a neblina da noite ainda irrigava a madeira da janela. Abriu a mão, a hematita, sementembrião de si, reluzia: tudo que reluz, renasce, não necessita ser ouro.