domingo, 7 de março de 2010

A tele(in)visão

Aconteceu no dia em que Boris Casoy insultou os dois garis no ano novo de 2010. Todas as tvs passaram a não mais evitar os comentários injuriosos de seus microfonados. Pensou-se, como o próprio Boris, que havia sido problemas técnicos-lógico da já obsoleta fábrica de chocolate informativo. Mas logo o sistema foi vasculhado e provou-se por a mais b que o problema nunca fora problema, ou tiu-ti na linguagem informágica, da máquina. Caiu-se então para os operadores das máquinas. Uma conferência então foi montada, todos os operadores de áudio do Brasil foram convocados a uma audiência com os donos das máquinas e das televisões: os Marinho na Globo, os Santos no SBT, os Saad na Band. As dinastias teleinvasivas cobraram explicações dos operadores das máquinas de áudio. Porém nada ficou comprovado, e um documento assinado por todos os operadores operários dizia que não eram eles os responsáveis pelo desregulamento das falas no microfone. Para desossego dos Césares da informação, a televisão estava fadada a desinformar. Como uma lua que resolveu girar em sua órbita e revelar o seu íntimo, o lado invisível, a televisão, por milagre diziam os igrejosos, por evolução diziam os cientistas da computação, por vocação diziam os antigos socialistas, passou a emitir todo e qualquer pensamento daqueles que nela enjanelavam-se. No começo a população tomou aquilo como uma brincadeira, mas logo se enraivaram. Não era os comentários sarcásticos sobre garis, operários, sem-terras, mendigos, ou qualquer coisa que não eles mesmos aparecessem na tela, que as gentes se revoltoram. Eles já estavam cansados com aquilo. Ouvi dizer que a televisão não mais dizia a verdade. Alguns até queimaram tvs em praça pública. Saudade do tempo em que tudo era dito naquela verdade que todos estavam acostumados ouvir.