terça-feira, 8 de novembro de 2011

Palavra-mágica

Nasci tendo duas línguas. Duas cabeças de um mesmo dragão, eram línguas irmãs, por isso não se davam uma com a outra, ainda mais gêmeas univitelinos, compartilhavam do mesmo tempo com visões, nesse caso, falas diferentes. Não sabem todos, porque me condenariam à forca. Sou bem atento às trocas de falas, quando uma ou outra deve dançarilhar no palco de minha boca. Uma mais doce, utilizo para conversar comigo mesmo, numa espécie de tentativa de me convencer que há o que sorrir. Outra mais amarga, utilizo baixinha para responder aos meus senhores, ruminando resmungos e resmundos de ordens dadas, como o vento que insiste em ser muro quando fujo. Cada uma delas aprendeu seu próprio idioma, a doce, de meus pais, a amarga, de meus senhores. Só se juntam para dizer uma palavra-mágica que desfaz as ameaças do feitor: yes. Consigo assim mais sossego, mesmo acatando ordens. 

2 comentários:

.Fran. disse...

Me fez lembrar o Herman Hesse com o "Lobo da Estepe". Essa dualidade, o homem e o lobo. E me fez lembrar que ainda não terminei de ler esse livro.
Vou pegar ele na estante.

Fábio Carvalho disse...

Não conheço fran, vou procurar ler.