segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Carpintar

Foi num repente feito fogo morro acima: certo dia descobri que estava a construir um navio. Inacreditei. Como as tintas das pinturas a se experimentarem, as madeiras também fizeram seu mistério. Cada dia, cada entalhe, cada detalhe se mostrava feito casulo quebradiço, feito lua-cor-de-mel em eclipse. Chamei todos para verem o que se desenhava em meu quintal. Um barco, quantas histórias poderíamos viver e inventar a partir daquele momento. Mal poderia adivinhar o que me viria, de minha própria família. Minas não tem mar, Benedito, então me disse minha irmã. Então quer dizer que essas terras vermelhas não desaguam? Por isso são vermelhas, sangram, explicou-me um velho poeta. Sentei-me várias vezes a pensar navio, em frente. Não poucos dias encarei: havia levado vida e meia a construir um navio, que nasceria encalhado. Até que em outro repente decidi. Voltaria a carpintar, era para isso que renasci.

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