segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Confissões

Me sinto profundamente arrependido, não como a enfermeira assassina. Ando a colocar fogo em árvores de calçadas. Começou quando fui procurado por um grupo de comerciantes que não mais aguentava os frutos caídos, diziam-me que a sujeira estava atrapalhando seu varejo. Bateram à minha porta, sabiam que eu faria o serviço sujo - e fiz. Com o tempo, a fama me fizera dos maiores cortadores vegetais que essa cidade já viu. Quando o peito inflama, poucos são capazes de fazê-lo voltar ao funcionamento normal. Meus requintes de crueldade aumentavam na mesma proporção que minha anosmia. Desenvolvi a síndrome de Kallman, mas de uma forma muito especial, o verde não mais me cheirava. A perda de olfato estava intimamente com a minha daltonia, tudo parecia preto e branco. Passei a não somente matar árvores e arbustos, por fim, passei a queimá-los, estava convencido que meus advogados cuidariam para que eu fosse absolvido como os garotos de Brasília que incendiaram Galdino. Não espero julgamento justo, porque sei que não terei, os juízes gostam de calçadas lisas para colocarem seus carros. Eles nunca me julgariam. Nem sei porque ando a escrever, assim porque andei a complementar a matança de índios destruindo flores e florestas.

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