quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Parei de contar na décima

Saí do tribunal direto para a carceragem. Fui condenado a duzentas chibatadas, mas parei de contar na décima, quando o sangue me fazia falta. Assim dizia meu sumário crime: Ano do Nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e oitenta, aos vinte e dois de Abril, nesta Cidade de Vassouras, o promotor público vem denunciar o escravo Máximo por ter entrado na casa de negócios de Manoel José Gonçalves e subtraído objetos. Uma lata de goiabada, capilé (refresco) e ovos de galinha, eram os objetos furtados. Quando os guardas me algemaram, ouvi uma voz lá no fundo, talvez do dono da venda: vai ser preciso construir mais cadeias. Resignei-me, afinal, como escravo, já haviam me roubado a liberdade no ventre cativo de minha mãe. Quantos mais negros precisarão enjaular para se satisfazerem?

Um comentário:

Rafael disse...

Fala aí grande Fábio!!! Andei dando uma olhada por aqui... ficou muito bom o trabalho! Não conhecia essa sua veia de poeta/cronista... maneiro. Rapaz, dá uma olhada lá no seu orkut, deixei um recado pra você. Abraço, Rafael.