terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Ataúde

Que alguns escutassem o escorregar da chuva ou cheirassem-na depois de despida no asfalto, acredito; mas a mim isso desabastecia. Precisava te-lha. Subi em escada e retirei uma telha colonial, daquelas que dizem que eram feitas das coxas dos escravos, como se nos tempos coloniais já se fizessem homens-máquinas de hoje em dias. Quando meu filho chegou para me invisitar, porque pareço desaparecer depois de velho aos que não dei luz, mas alumiei com minha lampalinda, assim sendo fui eu que dei a segunda luz a ele, disse em vozes de criança autoritária que haveria de providenciar a compra e alocação da telha. Desinsistiu no dia seguinte, naquele em que não estava mais em casa, o visitável nunca é boa companhia para quem tem outros assuntos a tomar de conta ou fingir de conta. Os escravos de outrora que se descaçassem do trabalho árduo de ser forma de telhas. Outra invisita me fez esse ano para perguntar sobre a cobertura, foi aí que lhe disse.
- Desde que sua mãe se foi a comunicar somente com mortos, não diferente de ti que se comunica com outros mortos, deixei a casa reflorescer, reflorestar. A água que lhe cai, não goteja, mas escorre pelo caule das paredes até a raiz. Desse modo, injetei e enjeitei vida ao meu ataúde, encovado que havia vivido até agora.

Nenhum comentário: