quarta-feira, 4 de junho de 2014

Jão, o kami-quase

Em atitude verbal mais-que-versiva, talvez subversiva, Jão Modesto desovou a pelota de capota, em gomos, quase engomada, que se fazia lado-escuro da lua em um porão empoeirado de sua casa. Saiu feito capitão, mais militar do que militante, na rua convocando seleções. Nesse tempo, não se podia falar de pelada, a não ser de mulher-pelada, essa sim, assovio de bocas-pequenas quando Laurinda Então se foi buscar na sorte amores vívidos. Mas trivela, caneta, lambreta, foram metáforas proibidas, e Lêonidas da Silva, padeiro de bicicleta, tivera que se refugiar em Quem Sabe Onde, cidade que todos ouviram falar mas nunca carta chegara. Jão, tão somente, decidira que era preciso acabar com aquela paz celestial: a bola colocara no capim, mas seu efeito transformava-o, transtornado, em um kami-quase diante do tanque. Mesmo assim correu, correu ao encontro da bola gravidíssima, com a força mítica dos canários: viu voar a bola travessa por cima do travessão. Indesistido, foi buscá-la na bananeira, de onde dizem as más linguagens, macacos acéfalos jogavam bananas aos inimigos da pátria em pretéritos de outrora. Conta-se, em documentos orais secretos, que o costume em derrota do time da casa, contradizer: aos vencedores as bananas. Nem tempo teve Jão Modesto de conferir se quem come banana podre morre de caganeira, apontado foi por todos aos militantos. No entanto, nenhuns ficaram sabendo o fim ou que fins deram a Jão, pois finados dois meses de sugestiva censura, a bola voltou a ser o fim de si mesma, a alegria do povo e a felicidade geral da nação. 

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