terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Em busca de um quintal para capinar

Entregou-se à espera de chuvisco, algum sinal, um chuvavisar das núvens, pelo menos, que dissesse se estavam carregadas. Fazia tanta seca que o feirante Pedro Bom queria ver se da enxada poderia fazer enxágua. Dizia a mulher, com esse tempo disléxico, escrevendo errado por linhas mortas, os dias se parecem homens: segunda-feira entorna-se apenas segunda, sem os traços de ligação. Vivelinda de Abraços apenas escutava, não o marido, mas as muitas vozes que em tempo de pobreza sapecam que nem varejeira: vai procurar um quintal para capinar. Em casa, conjurou-se ao marido, e Pedro Bom, mais crente que evangélico, pôs-se a procurar capim como quem caça com gato. O trabalho enobrece o homem, disse Seu Romualdo Grilo, fazendeiro de arroubas e arroubos a perder divisa. Grilo, apelido carinhoso devido ao fermento utilizado em cada medição de suas propriedades, quando o metro valia o dobro, ajudou o pobre Pedro Bom. Deu-lhe, como bom fazedeiro, gente que faz, a vara, esperando a pesca: arrumou capinzal. Comentava nas arremediações, governo nenhum devia embolsar zeninguem, senão bicho-preguiça sobe nas árvores e quero-ver tirar. Lembravejava em silêncio, o Grilo, ou cantava enquanto era Bom que trabalhava?

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