domingo, 5 de outubro de 2008

Festa da democracia

Como sempre acontece antes de shows, todos se arrumavam, aprumavam-se feito palhaços a desenhar seus rostos por cima da epiderme, com a simples diferença que estes distorcem seus defeitos, enquanto aqueles pensam escondê-los por baixo de suas canetas, pincéis, suas aquarelas. O espelho, tão caro a Narciso, é o instrumento cirúrgico mais imprescindível, no qual as retas se desenharão. Todos, passo a passo, emolduram-se, qual soldado dia-a-dia faz ao despertar, preparando-se para ser o que não é, desumanos, por isso talvez precisem tanto de camuflagem; contudo, estes todos narrados aqui não vão às guerras cotidianamente incentivadas globo afora; vão a um show, ou apresentação, em português de Portugal, aquele pequeníssimo país lusíadas, de pessoa e José, não aquele e agora José, repetido semestralmente nas provas de escolas interioranas nesse nosso país, e por falar de interior, é neste lugar, sítio em espanhol madrilenho, aquele país que não é bem um país, que irá acontecer este show, apresentação ou algo que valha em nossas línguas mundanas. Não se façam de rogado, porque sabem que escrevo do Brasil, do pitoresco mesmo, e não de antigas metrópoles. Perpassemos o fio da meada para desembolá-la. Carros, muitos carros saem de suas cabanas exatamente às oito horas, madrugada para os que nem possuem sua força de trabalho, em direção ao palco, e um fenômeno cada vez mais cotidianamente repetitivo com freqüência de coração de bebe prematuro, embarrigado, o engarrafamento do ser humano, desumano ou não, acontece. Belo conceito este, engarrafamento, que apesar de toda a palavra originar de gregos ou troianos, esta vem da indústria cervejeira, que não por uma ato do ocaso, investe nestes shows; como nossas vidas acabam mesmo num copo de cerveja, prossigamos, o conceito de engarrafamento é quando o líquido alcoólico é retido em um frasco, pois não, somos todos retidos e retidos ficamos até que se abra a garrafa. Ao estacionarmos o sistema de combustão mais conhecido como auto-móvel, palavra besta pois sou eu que guio o auto móvel e não ele mesmo, seria melhor besta-móvel, ou não desculpe-me, simplifiquemos, móvel, e damos aquele assobio para o negro destinado a vigiar os carros, algo mais ou menos parecido com o que no passado diziam escravo ao ganho, e eu sei que irás dizer que estamos livres e sem escravidão, eu diria para inquiri-lo sobre isso e a resposta provavelmente será contrária a sua, para finalmente chegarmos ao show ou festa.
Entramos numa escola, nessa época chamada zona, mas poderíamos revertermos as épocas e chamarmos zona, e nessa época chamada escola, esperamos sermos chamados e digitamos alguns números em uma televisão, qual é a diferença nesse caso, sempre somos os receptores nunca os produtores, e ao soar a sinfonia monótona dos nossos tempos, trim-li-lim-li-lim-li-lim, saímos da festa da democracia, fiesta de la democracia em países vizinhos, democracy’s show em países águias, e assim vai pelo mundo afora, reproduzindo-se num trim-li-lim, reverberando nossas desigualdades e indiferenças, apaniguando nossos desejos, apaziguando nossas lutas e jazindo-nos.

Um comentário:

Unknown disse...

E ao final deste show, quem "dança" é a nação!