terça-feira, 13 de setembro de 2011

Foi um sonho, porque não sou de invenções

Vou logo dizendo que foi um sonho, porque não sou de invenções. Também não gosto de me alongar. Senti um chute na perna que me fez acordar. Era uma senhora que vinha com uma sopa que esfumaçava diante do frio daquele dia que começava disfarçado de noite. Como já havia comido antes de deitar-me, recusei a oferta, sendo logo atacado por desqualidades que eu não sabia que tinha, mas a que me feriu foi a de vagabundo. Não admitindo a recusa, sei que não é de boa tonalidade não aceitar alimento de anfitriões, mas naquele momento era eu que estava dormindo e não o contrário. Já imaginaram entrarem em sua casa para lhe oferecer comida, tirarem-lhe o cobertor da cama e ficarem surpreso diante de um simples "não, obrigado"? Mas aquela mulher se transformou, não sei se foi orgulho ferido, mas a segunda vez em que me chutou com os polegares do pé, para não se tornar impura, vinha com um microfone. Atrás, minha ex-mulher dizia que ela era maluca, mas não me percebi de começo. As palavras que saíam não era da sua boca, mas detrás de um bola negra de fio longo, e me perguntavam coisas tão loucas, se eu sentia frio, fome, se eu era maluco, bebia, se eu não tinha dinheiro, se eu era ladrão. Não respondi a nenhuma, acho que ela mais queria era desabafar, sentia medo. Mas me atrevi a responder a última: você se sente excluído, disse não. Diante deste segundo não, a mulher microfonada se revoltou, seu aparelho de falar desabrochou: de tímido, estroverteu-se. A voz agora não se escondia no globo, ela se encaixava em um cone elétrico, e as palavras ousadas assustavam todos que passavam a nós. Eu continuei deitado, não participando daquilo. Acho que das referências feitas a mim, a melhor era "vítima". Mas reconheci outras: coitado, pena, desgraça, sem-família-teto-terra-saúde-dignidade-amorpróprio-etc. Contou minha história de vida, como se ela conhecesse, essa sim ela inventou. Cansou de dizer, parou e chorou. Não entendi, talvez estivesse com algum problema, mas eu perguntei e fui respondido chorava pelos pobres coitados que vivem na rua sem eira nem beira. Entendo, disse, porque entendia o que se passava com conhecidos meus. Foram as únicas palavras que consegui dizer àquela mulher. Ela pegou seu carro, mais parecido com um ônibus, e foi embora. Acordei, já havia amanhecido. Fiquei pensando naquele sonho o dia inteiro que andei a trabalhar, procurei meus amigos para perguntar se passavam por alguma necessidade. Todos estavam bem graças a Deus.

Um comentário:

.Fran. disse...

Fabinho, como sempre mandando bem! Teus textos me surpeendem sempre de uma forma maravilhosa. Continue escrevendo, sempre!