sábado, 22 de outubro de 2011

Pares de manequins

Como representação de homossexuais covardemente assassinados, em todas as cidades surgiram pares de manequins sem cabeças ligados uns aos outros para demonstrar a todos que o amor não foi monopolizado por Adão e Eva, muito menos imposto pelas igrejas. O amor, este sim, emergiu muito antes de qualquer criação, e talvez seja isso que importune tantos padres e pastores, alemães ou não. Todos já temos a certeza de que mesmo antes de deus e toda sua mágica, havia o amor. Este sim criador e criatura. Este sim onipresente. Este sim todo poderoso. Este sim único e indivisível. Este sim pastor, pai, espírito, santo, que nada faltará desde que todos os dias rezem a ele. O medo de que este amor guilhotine deuses déspotas, orgulhosos, pecadores de seus próprios mandamentos, narcisistas, faz com que novos fascistas se  transvistam de capitão do mato a caçar aqueles que praticam a fuga de uma sociedade impositora e impostora da verdade, aqueles se aquilombam para se amar. Nesse novo holocausto os corpos massacrados se negam a se escurecer, e vagam pelas cidades em pares de manequins de plásticos interligados. Parece que as lágrimas de familiares, amigos, amores dos assassinados barbaramente fertilizam o solo por onde passam, e de alguma forma recriam não-biológica, mas poeticamente, moldes de seres humanos que só queriam ser felizes. Se esta memória é só de corpo plástico, pouco importa, pois foram também obra das almas, que antes de subir aos céus, produziram as estátuas plásticas. Não mais será necessário mostrar à sociedade pilhas de corpos osso-puro como em 1945, automaticamente os manequins já se prestam a mostrar o absurdo do massacre. O amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem a cada instante de amor; se já disse um poeta, os manequins nos provam.

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