sábado, 22 de outubro de 2011

Lua, Luiza


Desde o primeiro dia que vim parar aqui, esta é a parte da qual mais gosto: a noite, com seu silêncio e o céu de grandes furos. Há muito tempo venho pensando nisto, ainda mais quando tem lua. Talvez seja apenas eu a admirá-la hoje, outras pessoas com certeza não possuem o tempo como eu o possuo. Naquela multidão de pés uníssonos na mesma direção caminham, correm ao mudar de uma máquina, vermelho, verde, verde, vermelho... parando e levando vai outra multidão, estas também em suas máquinas, que obedecem máquinas. Ainda bem que não sou um pássaro, um passarinho, capaz seria eu de pensar que não existiria vida inteligente ao solo; capaz seria eu de pensar que somente na república do céu existiria liberdade.
Voltemos à lua, tantas vezes cantada: sim, eu escuto, já escutei uma bonita música sobre ela, embora só tivera eu compreendido a palavra lua. Entretanto, só isso me fazia agraciar àquela música com o prêmio de meus ouvidos; devo confessar, apreendi-a também por dizer meu nome, Luiza. Um colega já me disse que é por isso que tanto falo da lua, por ela combinar com meu nome. Sempre gostei de saber os nomes das pessoas, é uma coisa que me causa cativeiro... talvez por achar o meu muito mais bonito do que de meus colegas. Dar-me-ia imenso encanto se a cada pessoa que por aqui passasse me dissesse seu nome, assim evitaria que eu passasse o dia a dar alcunha aos que por aqui passam. Que não digam, acho porque não possuem o tempo – seria um tanto desgostoso. Os animais, esses sim, sei seus nomes, até aqueles que não os batizei. Tenho um cachorro, Rex, se não é original, pelo menos é fácil de dizer.
Voltemos à lua, com seu vestido de noiva, sem noivado, porém. Seria triste a lua por isso? Talvez um daqueles senhores de terno que por aqui passam pudesse me responder esta questão. Se ao menos eles falassem. Ainda bem que não sou nenhuma flor, capaz eu seria de pensar que só existe amizade entre eu e a borboleta e a abelha e os outros pequenos; capaz eu seria de me entristecer e não mais pétala daria luz, nem lua, nem Luiza poderia me cheirar. Senhores, aqueles de terno, sentem muito frio, eu aqui só o sinto quando a noiva sem noivado não vem me cobrir.
Voltemos à lua, pois já vai tarde, e o frio não perdoa quem tem como o teto somente as estrelas, como cama o azulejo, como amigo um cachorro, como casa a calçada, como esperança somente a lua.

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