segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A fábrica

Entrei. Logo procurei um canto esconderijo, avistei um banco e sentei. A adrenalina já baixara, consegui me desaperceber. Coisa acostumada nos outros bancos que freqüento, dias de chuva ou de estrelas. Dizem que as estrelas são gigantes bolas de calor, pra mim sempre as vi como teto, uma abóbada perfurada, onde deus rega-nos. Aqui não dá pra saber se é noite ou dia, se é quente ou frio, aqui é só aqui dentro, nada mais. Mortos iguais a esta planta ao meu lado, mais um enfeite do que algo que respira. Foi a primeira vez que entro em um shopping. Das outras guardo as marcas de dedos dos policiais vestidos de advogados. Sempre escutei falar destas terras cá, de quanto luminoso é, de quanto perfeito é, de quanto esquisito também é. A olho nu, sempre da rua, via pessoas indo e vindo, entrando e saindo, sorriso a rasgar a boca, por isso, chamei de fábrica de felicidade. Lá fora tudo é chuva, mesmo em dias solares, tudo nublado em céus azulados. Minha intenção era só de fazer como os demais, aquelas incolores pessoas, entrar neste mundo de fazer felicidade. Contudo, mais uma vez saio puxado por um desses advogados-policiais. Agora sim faz chover neste arcabouço, não consigo conter minhas lágrimas e chovo. Por que não posso também entrar na fábrica de felicidade, na fábrica de sorrisos. Acabo de chegar à conclusão que esta fábrica é para seres vivos, não para mim, algo que nem a planta que busquei refúgio: sem luz. É melhor voltar ao meu cobertor, na minha calçada, aqui fora também chove, preciso de uma cobertura para me aquecer e dormir. Resta-me dormir.

Um comentário:

Unknown disse...

Não é apenas uma fábrica de felicidade, podemos dizer que é uma fábrica da alienação também, onde a realidade é bem diferente!
Bjs meu escritor mais lindo deste universo :)