quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A fruta-pedra

Era uma fruta-pedra. Nascera de ventre vegetal, mas pertencia ao mundo do concreto. Chegara à fase madura sem que nenhuma pessoa a percebesse, com a velocidade que nos movemos cotidianamente nem mais se dá conta do sol, da lua, das estrelas, quanto mais de uma fruta. Frutas nascem todos os dias e amadurecem cada vez menos, não conseguem chegar à idade adulta pela evolução que os homens a impuseram. O azedume impregnou-se no mundo das almas dos frutos que não conseguiam mais dar à luz a filhos iguais aos de muito antigamente. A fruta-pedra era a evolução da espécie, era a cor do progresso. Cinza são os nossos anos, cinza são as feridas que petrificaram-se tanto nos organismos vegetais que seus cachos agora penduram pedras. A tristeza da mãe que concebia aquele filho cor asfáltica foi alimentada pelas águas-mágoas ou pelas mágoas-águas que subiam em seus corpos, vinham de baixo vinham de cima. Por isso, não fora a fruta-pedra criação somente da natureza, fora uma criação das mais felizes para os sempre sedentos construtores de prédios. Como sua cor, a nova espécie nada tem de original, como filha da terra e do concreto. É a metáfora daquilo que o homem transformou e transformou-se, num semeador de cinzas.

Nenhum comentário: