sábado, 1 de outubro de 2011

Perdi a voz

Perdi a voz. O sangue escorria, descia até lençóis subcutâneos da terra. Não eram médicos a operar, eram operários a medicar a eutanásia através de escavadeiras e retroescavadeiras. Milenar, as raízes escondiam-se para não serem achadas pelas lâminas, e venciam a batalha pelo tamanho de sua ancestralidade. Em cidades hipermodernas não precisamos mais reverenciar nossos antepassados. As árvores viram circo, artefato de decoração; sem mais pulmão para aguentar nuvens de gás carbônico, acabam adoecendo, cânceres de todos os tipos são diagnosticados. Falecem, viram túmulos a nos fazer lembrar que nem sempre as coisas foram assim. E por isso, incomodam. Quem gostaria de testemunhar nosso fracasso em nos humanizar, em nos harmonizar? Perdi a voz, não só a ver em minha frente aquela tragédia, perdia a voz por não poder mais sensibilizar ninguém com este discurso.

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