sábado, 29 de outubro de 2011

Racismo

Posso lhe perguntar uma coisa professor? Perguntou algum aluno, sabendo que já havia perguntado, por isso o mais lógico seria fazer outra pergunta que não a primeira. Diante da concessão do professor, interrogou-se e aos presentes: por que não se pode acusar um negro de racismo contra um branco? Sem jeito ficou o ditador daquela sala. Ele não havia se preparado para aquele questionamento. Suas aulas eram meticulosamente pensadas, decoradas alguns diriam, e não fazia parte de seus pontos esclarecer aquela questão. Fora treinado apenas para culpar os outros do racismo existente e ao mesmo tempo inexistente, ouvido e ao mesmo tempo sentido, gesticulado mas muitas vezes polissêmico. O silêncio tomou conta de repente de toda aquela jaula, aqueles quadrados fechados, aquelas mesas retangularmente pensadas para dar poder a uma só pessoa: a única que se encontra em contracorrente, a única que despreza o quadro negro e o giz branco. Nunca ouviu-se um silêncio tão alto como aquele, petrificando os corpos do senhor das palavras e dos escravos das falas. Durante muito tempo ficaram assim, num jogo de estátua, até que as cordas vocais pudessem novamente, agora lubrificadas, produzir o seguinte som: "os brancos nunca sentiram o medo de serem vendidos, separados de suas famílias, amigos, parentes. Os brancos nunca tiveram medo de verem seus sonhos mais banais acabarem depois serem vendidos. Os brancos nunca perderam seu orgulho dentro mesmo de sua família, ao ver sua mulher sendo abusada por aqueles que diziam donos dela, ou mesmo de ver seus filhos vendidos como mercadoria. Os brancos nunca tiveram que lutar para que tudo isso e muito mais terminasse. E mais importante, os brancos nunca no seu íntimo tiveram que juntar forças para não se sentiram menores quando 500 anos de história do Brasil é recontada".

Um comentário:

.Fran. disse...

Caraca Fabinho, fiquei arrepiada.